manifesto forum mundial

Por Pedro Ivo. En 23/12/11 00:03 .

Manifesto ao Segundo Fórum Social Mundial

Um outro mundo é possível, e nele uma outra cultura esportiva é possível, expressão de uma nova sociabilidade sensível às necessidades humans, includente, dialógica e comunicativa, que esteja a altura de nossos mais sinceros desejos utópicos e libertários 


GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM SOCIOLOGIA DO ESPORTE
da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás (1)

Resumo

Neste Manifesto, o Grupo de Estudos e Pesquisa em Sociologia do Esporte da FEF/UFG procurou socializar suas discussões a respeito do Movimento Olímpico Internacional (MOI), concebendo-o como parte do processo de expansão da modernidade capitalista ocidental. A partir da teoria do Imperialismo (LÊNIN, 1977), dos conceitos de Imperialismo Cultural (DEL ROIO, 1997), de Multiculturalismo (MCLAREN, 1997) e da Teoria do Agir comunicativo (HABERMAS, ????) foram indicados alguns elementos à crítica do MOI, na atualidade, considerando-se que ele encontra na forma-mercado, no imperialismo econômico e cultural, e na racionalidade instrumental algumas de suas bases histórico-sociais. Concordando com o chamamento do II Fórun Social Mundial de que Um outro Mundo é Possível, pensase que nele e para ele Um Outro Esporte deve ser possível, e neste sentido argumentase que um Outro Esporte pode buscar, numa economia planificada, coletiva e democraticamente, no multiculturalismo e numa racionalidade mais comunicativa e dialógica, novas bases histórico-sociais para se desenvolver como um "inédito viável".

1. As Olimpíadas são a grande referência do Fenômeno Esportivo no mundo contemporâneo e globalizado.

O esporte se constitui um dos fenômenos mais complexos e abrangentes das sociedades contemporâneas, tornado-se inclusive uma das práticas sociais de maior unanimidade quanto a sua legitimação social. Os JOGOS OLÍMPICOS são uma das expressões mais típicas deste fenômeno, à medida que reúne, num grande evento, povos e culturas de todo mundo sob a hegemonia dos países capitalistas centrais. Portanto, a maioria dos países participantes encontram aí mais uma forma de manutenção da sua posição subalterna no quadro geral da 'globalização' que, a rigor, tem sido muito mais um sustentáculo ideológico do imperialismo político e econômico , que no caso das Olimpíadas, revela sua face de imperialismo cultural .

2. A Instituição Esportiva se expandiu tão rápido quanto o capital pelo mundo.

A idéia da constituição de um Impérium Mundi não é nova, remonta mesmo às origens do mundo ocidental, sendo inclusive parte essencial de sua tradição intelectual. O fenômeno esportivo tem contribuído decisivamente para este milenar processo de ocidentalização do mundo. Basta ver que o esporte, de sua origem à sua "globalização", percorre basicamente o mesmo processo de expansão da modernidade, tendo surgido em meio aos processos relacionados às Revoluções Industrial, Científica e Política ou Burguesa. É neste contexto que a Instituição Esportiva tão rápida e tão ferozmente quanto o capitalismo alastrou-se, a partir da Europa, para o mundo todo, refletindo hegemonicamente as características da sociedade burguesa.

3. O esporte possui características hegemônicas que são funcionais à ordem burguesa.

O esporte sob estas condições se desenvolveu com base em características que refletem os valores mais funcionais à manutenção do status quo. Entre outros podemos citar: racionalização onde o pensamento técnico e científico predomina sobre qualquer pensamento místico, tradicional ou religioso, fatos esses visíveis no esporte pela ênfase dada cada vez mais na quantificação dos feitos atléticos, numa maior especialização dos papéis a serem executados pelos atletas e o desenvolvimento de táticas e estratégias de jogo cada vez mais 'frias' e calculistas; secularização que podemos definir como processo pelo qual as representações sociais não estão atreladas à explicações religiosas, e sim calcadas na razão científica e nas técnicas dando-lhes um certo caráter 'profano'; por outro lado, o esporte enquanto promotor da força de trabalho nos moldes do sistema capitalista , reproduz em seu interior a divisão social do trabalho e sua alta complexidade, o que se reflete na especialização de papéis, que limita as potencialidades humanas pois do conjunto de aquisições e habilidades técnico-esportivas que, em tese, estariam disponíveis a atletas, restringe-as a apenas algumas exigidas pelos modelos de performance e desempenho hegemônicos; regulação em alta escala que se caracteriza por uma forma de controle social exercida não só desde cima pelo MOI, mas também desde baixo por exemplo, pelas famílias e clubes que fomentam uma determinada 'obsessão' pelo resultado máximo, isto sem falar que os códigos (regras, estruturas hierárquicas etc.) criados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), e pelas Confederações são reguladores do funcionamento da prática esportiva através de instrumentos como por exemplo a Carta Olímpica. Assim, os envolvidos com o esporte (atletas, dirigentes) ficam submetidos a um controle hierárquico do qual não são sujeitos ativamente implicados em sua construção. Outras características do esporte, como os condicionantes econômicos, o treinamento esportivo e os resultados técnicos se tornam importantes no processo regulador de identidades e consciências individuais e coletivas; a burocratização traz um novo modelo de organização para o esporte, onde nascem as federações, as grandes promotoras dos torneios de 'alto nível' (altamente comerciais). As novas organizações formam as ligas profissionais que adequam o esporte a lógica do capitalismo industrial, por sua vez esta nova lógica faz com que varias práticas corporais sejam esportivizadas, fortalecendo ainda mais um tal modelo burocrático. A comercialização e consumo exacerbado, a prática do doping, seriam mais outras características do esporte moderno já bastante conhecidas e sobre as quais, de certa forma, falaremos mais adiante.

4. O Movimento Olímpico é a mola propulsora desta "Ocidentalização Esportiva do Mundo"

Juntamente com a expansão do modelo de sociedade ocidental para o restante do mundo, o esporte se torna uma das estruturas difusoras da nova organização social, e o Movimento Olímpico Internacional (MOI) é a mola propulsora desta difusão. Desde sua origem o MOI tem a cúpula formada por barões (a começar pelo Barão Pierre de Coubertain), príncipes, aristocratas. Em nossos dias eles foram sucedidos por toda sorte de ricos e endinheirados "homens-de-negócio". Nunca houve espaço nesta cúpula para a classe-que-vive-do-trabalho. Neste sentido como poderia o MOI deixar de ser um grande difusor das visão social de mundo a que pertenciam, e ainda pertencem aqueles que, na acepção do pensador Antônio Gramsci, lhe conferem a devida direção moral e intelectual? Aqui basta um único exemplo: a própria noção de INTERNACIONALISMO do MOI nada tem a ver com aquela outra, construída pelo movimento operário internacional. "A verdade é que os conflitos centrais da sociedade burguesa geram, à época, duas organizações ( não instituições ) esportivas paralelas e rivais . A classe trabalhadora européia, que fundadora inclusive de uma Associação Internacional Socialista para o Esporte, e a Cultura Corporal. A primeira constrói uma rede de clubes ginástico-esportivos reunidos em federações nacionais (e internacionais), que procura dar um sentido "proletário" à prática da ginástica e do esporte, criticando o individualismo e a competição, considerados valores burgueses, enfatizando a solidariedade (de classes). Este movimento, chegou a organizar três grandes olimpíadas especificamente da classe trabalhadora. Esta organização estava ligada a luta mais geral da classe trabalhadora, sofrendo inclusive a divisão própria da internacional bem socialista e comunista e após a Segunda Guerra Mundial não pode ser mais recuperada. O argumento central para se constituir apenas uma organização esportiva, congregando os interesses "exclusivamente esportivos", foi o de que um dos males e equívocos ocorridos havia sido a instrumentalização política do esporte (no caso o da Olimpíada de Berlim por Hitler), devendo este permanecer neutro".

5. Um espetáculo de... Racismo, Terrorismo, Boicotes, Bloqueios etc.

Sabemos de vários episódios de uso político-ideológico do esporte. O exemplo mais famoso ocorreu na Olimpíada de Berlim em 1936, quando o regime nazista pretendia fazer do evento a vitrine da suposta superioridade da raça ariana. Felizmente, o negro norte-americano Jesse Owens, ganhador de duas medalhas de ouro, provou, já naquela época, que um outro mundo é possível.
Durante os anos de bipolaridade e da Guerra-Fria, as Olimpíadas se tornaram um palco privilegiado para o confronto entre as superpotências e suas respectivas áreas de influência, exemplo disto foram os boicotes as olimpíadas de Moscou (1980) e Los Angeles (1984). Mas, com o colapso dos regimes do Leste Europeu, as Olimpíadas passam a ser um palco privilegiado para os países capitalistas centrais expressarem sua supremacia. Símbolo destes novos tempos é a admissão, a partir da olimpíada de Barcelona em 1992, dos atletas da liga profissional de basquetebol dos EUA, a NBA. Numa estratégia de marketing a imprensa logo se encarregou de batiza-los de Dream Team. O fato de que é praticamente impensável algum outro país do mundo vencê-lo, simboliza a hegemonia norte-americana em nossos dias, ainda mais se pensarmos que tal fato só se tornou possível com o fim da URSS, o que permitiu aos EUA impor sua vontade soberana ao COI (como já se faz na ONU, FMI, Banco Mundial etc.) sem qualquer resistência.
Como esquecer ainda dos protestos dos Black Phanters, atletas norte-americanos negros que, em sintonia com as lutas raciais em seu país, erguiam os punhos fechados quando subiam ao pódio durante a olimpíada do México em 1968. Em tempos de terrorismo a que se lembra dos atentados contra a equipe israelense na olimpíada de Munique em 1972.
De novo em Barcelona em 1992 torcedores cubanos, aproveitando o elevado prestígio internacional de seus atletas participantes do evento, realizaram uma manifestação contra a atual situação política de Cuba, portando um cartaz com os seguintes dizeres: "Rompemos o Bloqueio".
Por tudo isso não se pode ignorar que as olimpíadas modernas refletem os conflitos e contradições do mundo em que vivemos. Se realmente pensamos que um outro mundo é possível, necessitarmos superar este.

6. Neoliberalismo, desigualdade, exclusão e políticas públicas de olimpismo.

Com o avanço do neoliberalismo no mundo as condições de desigualdade e miséria extremas são agravadas. Assim, o mito da igualdade de oportunidades nas competições esportivas cai por terra, bastando uma passada de olhos pelo quadro de medalhas olímpicas, para ali vermos o abismo econômico político, cultural e tecnológico que separa os países ricos (ganhadores da quase totalidade das medalhas) dos países africanos e latino-americanos, para citarmos só dois exemplos.
Mas há também o exemplo de Cuba, que, mesmo sem o poderio econômico da Europa Ocidental e EUA, ganha um número expressivo de medalhas, reflexo da justiça social e dos avanços que o socialismo possibilitou a seu povo.
Apesar disto, em países como o Brasil as autoridades, ligadas ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ao próprio governo e seus órgãos responsáveis pelo esporte nacional, continuam considerando que o desenvolvimento e promoção do esporte, podem ser realizados "apesar de", "por cima de", ou "mesmo com" uma sociedade estruturalmente desigual e excludente, bastando para tanto políticas públicas pontuais, que incidem na especificidade do fenômeno esportivo. Depois do "vexame" brasileiro na última olimpíada em 2001, na Austrália, o governo FHC resolveu apostar numa versão "pós-moderna" da velha política da escola como base da pirâmide esportiva, já implementada sem sucesso nos anos 60/70. Para tanto anunciou verbas e recursos para Programa Esporte Educacional, o que vem despertando críticas e resistências por parte das entidades científicas e movimentos sociais progressistas vinculados à área de Educação Física/Ciências do Esporte. Em tempos de neoliberalismo é bom lembrar que isto significará mais recursos do (já tão escasso) Fundo Público para atender os fins privados/particulares estabelecidos pelo COI. Na verdade "se instalou uma parceria entre poder público e organização esportiva'. Esta organização esportiva é hoje um grande lobby econômico internacional, um verdadeiro governo internacional do esporte que usa (e abusa) do poder (e do dinheiro) público. O sistema esportivo é um parceiro dos governos federais que oferece como retorno, basicamente, um produto simbólico que é o prestígio - reconhecimento internacional com repercussões internas de caráter legitimador, e, secundariamente, um retorno econômico. Aliás, esta dimensão, a econômica, tende a assumir a posição central, na questão dos motivos da intervenção do estado. Assim, uma primeira indicação a uma política pública para o setor de cunho democrático é superar finalmente a idéia da pirâmide e sua perspectiva implícita de que o sistema esportiva teria como finalidade a produção de atletas campeões, idéia que por incrível que pareça, permanece firme na mente dos políticos, no senso comum político, e é usada e afirmada pelo sistema esportivo nacional e internacional, porque esta lhe é fundamental. Não para recrutar melhores praticantes, como é o discurso, mas para a socialização do exército de consumidores de seu produto e seus sub-produtos".

7.O olimpismo não é filosofia, é ideologia - o verdadeiro ideal olímpico se tornou o lucro.

O olimpismo se confirma como uma ideologia e não filosofia, já que não forma uma idéia seguida de uma prática concreta. Os Jogos Olímpicos Modernos, através de uma audiência monumental e com o desenvolvimento dos acontecimentos olímpicos, criam esponsorização ou principal referência econômica da comunicação aos jogos olímpicos. As grandes empresas ( Coca-Cola, Nike, Reebock, IBM, Seiko e outras) são anunciantes que destinam recursos elevados para chegar aos telespectadores destas manifestações esportivas. Os Jogos Olímpicos são objeto de apropriação em regime do monopólio por parte do COI, que atua como uma empresa multinacional, onde o risco decorre ao sistema de economia de mercado e de livre empresa privada sem sofrer seus inconvenientes. Os atletas são os artifícios da espetacularidade esportiva, e se convertem em agentes publicitários das grandes empresas, caracterizando-se como um símbolo atrativo e fazendo do esporte um indutor do consumismo. "Com altos salários os atletas se transformaram em verdadeiros produtos industriais que são comercializados através dos managers, que constituem uma nova categoria de profissionais incorporada ao mercado de trabalho na área do esporte. Um exemplo, foram os rumores sobre o iminente retorno de Michel Jordan, em março de 1995, à liga NBA, que dispararam as ganâncias dos investidores em Wall Street e a bolsa novaiorquina. As ações das companhias que utilizam para sua promoção comercial a imagem de Air Jordan haviam aumentado suas cotas desde o arranque do rumor, em mais de dois pontos, trezentos milhões de dólares, desencadeando esse incrível fenômeno pelas companhias: o estoque de sapatos esportivos NIKE aumentou em 3,3%, as ações da multinacional McDonald's acenderam 4,4% nas últimas jornadas, os produtos alimentícios General Mills, 4,8% e até a marca de cereais Quaker Oats aproveitou o ruído com 1,12% de subida".

8. Rumo a uma outra Cultura Esportiva.

Nós do Grupo de Estudos e Pesquisa em Sociologia do Esporte da FEF/UFG acreditamos que uma nova cultura esportiva será produto e produtora de uma nova cultura, esta fruto de uma nova sociedade. Gostaríamos de encerrar este manifesto socializando um pouco das discussões, que temos realizado no Grupo, ampliando-a e enriquecendo-a com outras contribuições, sugestões e críticas.

PENSAMOS QUE UMA OUTRA CULTURA ESPORTIVA TERÁ QUE, NECESSARIAMENTE, ROMPER COM A FORMA-MERCADO DE ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA DE NOSSAS SOCIEDADES. No mercado capitalista internacional sabemos bem quem serão os detentores - "sob regime de monopólio" - da mais moderna tecnologia esportiva, quem reunirá as melhores condições de desempenho esportivo; e quem ficará, mais uma vez, excluído do acesso a equipamentos, instalações, conhecimentos etc.
PENSAMOS QUE UMA CULTURA ESPORTIVA ALTERNATIVA PODERÁ SER FRUTO DE VARIADOS MODOS DE PLANEJAMENTO ECONÔMICO. Rompendo com a lógica de mercado, e ao mesmo tempo com os modelos de planejamento econômico centralizados e burocráticos que acabaram por fazer predominar no "socialismo realmente existente" uma economia planificada permitirá que a "riqueza esportiva" (tecnologia, equipamentos, conhecimentos e pesquisa, instalações etc.) produzida e acumulada pela humanidade deixa de sofrer apropriação privada, para que todos os possam ter acesso e dela usufruir, num processo de apropriação social democrática e coletiva em escala mundial.
PENSAMOS QUE UMA NOVA CULTURA ESPORTIVA TERÁ QUE, NECESSARIAMENTE, ROMPER COM O IMPERIALISMO CULTURAL. Ora, sob as condições acima aludidas do mercado, as olimpíadas acabam por se tornar um grande espetáculo de imperialismo cultural, cujo melhor símbolo parece ser o Dream Team dos EUA. Aos povos do dito terceiro-mundo, África, Ásia (a exceção p. ex. do Japão) entre outros, que não estão totalmente excluídos, resta pouco espaço numa olimpíada para a expressão de suas culturas, que não seja de maneira subalterna.
PENSAMOS QUE UMA CULTURA ESPORTIVA ALTERNATIVA TERÁ QUE SER MULTICULTURAL. Tratar os povos e suas culturas apenas como uma questão de diversidade e diferença, sem analisar radicalmente as relações de poder material e simbólico, que privilegiam uns em detrimento de outros, em suma, dar tratamento igual para desiguais como historicamente faz o COI, é um sustentáculo poderoso do olimpismo hegemônico. Assim, uma nova cultura esportiva terá que necessariamente realizar este exame radical das condições históricas objetivas que possibilitam tanto a manutenção quanto a transformação do imperialismo também na sua faceta cultural. Quando os povos realmente puderem usufruir com mínimas condições de igualdade de oportunidade, e segundo seus costumes e tradições escolher aquilo de que desejam usufruir, ou não, então poderemos pensar num esporte, que respeite o multiculturalismo como contraponto ao imperialismo cultural.
PENSAMOS QUE UMA CULTURA ESPORTIVA ALTERNATIVA TERÁ QUE, NECESSARIAMENTE, ROMPER COM A RAZÃO INSTRUMENTAL QUE ANIMA O IDEAL OLÍMPICO BURGUÊS. Como sabemos, a ideologia do olimpismo cria uma falsa necessidade de record's e resultados esportivos, exigidos pelos patrocinadores, expectadores, mídia etc. Surgem então a indústria dos meios artificiais - Dopping - para obtenção destes resultados. As indústrias de fármacos se tornaram poderosas e influentes junto a atletas, equipes esportivas até mesmo junto ao COI. Este exemplo do dopping é bastante ilustrativo da (ir)racionalidade que anima o olimpismo moderno e seu sistema de produção de meios para se alcançar os fins desejados, mas sem uma discussão ampla e aprofundada destes mesmos fins. As conseqüências, no caso do dopping, podem ser (como ocorrem inúmeras vezes) a morte do atleta que fez uso de substâncias químicas. Assim, o que esperar de uma racionalidade que instrumentaliza o corpo humano (mulheres que perdem suas características femininas como timbre de voz, tem acentuado crescimento de pêlos pelo corpo, homens que ficam estéreis, câncer do fígado em ambos os sexos etc.) em nome de um sistema produtivo que coloca o lucro antes e acima das pessoas?
PENSAMOS QUE UMA OUTRA CULTURA ESPORTIVA PODERÁ BASEAR-SE NUMA RAZÃO MAIS COMUNICATIVA, ABERTA E DIALÓGICA. Este Fórum é um bom exemplo da capacidade comunicativa que possuem os povos do mundo para, com diálogo, refletirem sobre seus problemas comuns, pensarem democrática e radicalmente em soluções anti-sistêmicas diante de um capitalismo que se revela cada vez mais senil, decadente. Pensamos que uma nova cultura esportiva poderá enraizar-se a partir de um NOVO INTERNACIONALISMO bem distinto daquele preconizada pelo COI; defendemos um internacionalismo de novo tipo, no qual "a melhor tradição do movimento operário continua bem viva, como caso de muitos sindicalistas combativos, militantes socialistas e comunistas e em certas correntes de extrema esquerda (anarquistas e trotskistas) - assim como na ala esquerda dos movimentos autonomistas e de libertação nacional. Ela pode, em certas condições, exercer uma influência de massa [cujo melhor exemplo é o II Fórum Social Mundial. Por outro lado, novas sensibilidades internacionalistas despontam em certos movimentos sociais planetários (feminista, ecológico), nos movimentos europeus da juventude anti-racista, nas mobilizações de solidariedade com o Terceiro Mundo, em algumas ONGs cristãs ou laicas (Anistia Internacional). É da fusão entre a tradição classista, socialista, antiimperialista dos primeiros, e das novas exigências humanistas, ecológicas e democráticas dos segundos, que poderá surgir o internacionalismo de amanhã". E é nesta possibilidade utópica que depositamos nossas melhores esperanças, porque o esporte hoje hegemônico é o esporte da pré-história da humanidade, enquanto que o nosso sonho é uma cultura esportiva cuja construção apenas começará, quando começar verdadeiramente a História da Humanidade.

Abstract

In this Manifest, the group of studies and research in sociology of sport from FEF/UFG tried to socialize your discussions about the International Olimpic Moviment (IOM), conceiving it part of the process of expansion of the western capitalist modernity. According to the Imperialism (Lenin, 1977), of the concepts of Curltural Imperialism (Del Roio, 1997), of Multiculturalism (McLaren, 1997) and of the Comunicative Agir Theory (Habermans, ????) were indicated some elements to IOM, in the atuality, considering that it find itself in the market-form, in the cultural and economic imperialism, and in the instrumental racionalitysome of your historic-social bases. Conform the organization of the World Social Forum A new World is Possible, they think that in it and for it Another Sport must be possible, and in this case they argue that Another Sport can look for, in a planified economy, collective and democraticaly, in multiculturalism and in a racionality more communicative and dialogic, new historic-social bases to develop itself like a “unpublished viability”.

 

GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM SOCIOLOGIA DO ESPORTE
da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás

Goiânia, 29 de janeiro de 2002.

 

1-Compõem o grupo os acadêmicos Arlindo Júnior, Antônio Chadud e Hugo Leonardo, além do profº Marcelo Guina.
2-Trecho extraído do Livro Sociologia Crítica do Esporte: uma introdução, de autoria de Valter Bracht, editora da Universidade Federal do Espírito Santo, ano de 1997, pp. 97.
3-Trecho extraído do mesmo autor e obra, pp.89.
4-Trecho extraído do livro O Esporte Olímpico: novos paradigmas de suas relações sociais e pedagógicas, de autoria de Elio Salvador Cavarreta, editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1997, pp.65.
5-Trecho extraído do livro Nacionalismos e Internacionalismos: da época de Marx até nossos dias, de autoria de Michael Löwy, editora Xamã, ano de 2000, pp.107.